Roberto Doido, o ilustre caldas-novense


Robertão Doido, ícone da minha cidade lá no interior do Goiás, era um cara que usava calças jeans de lycra com estampas de jornal (dizia-se que era homossexual) antes de ser moda e camisa de botão masculina, formal, andava sempre com uma pasta imitação de couro transversal ao corpo (semelhante à minha). Era louco, louquinho de pedra, maluquete, bilu-bilu tetéia, doidão, mas não vivia encarcerado, não, era uma espécie de celebridade, às vezes tinha um acesso de loucura e gritava algo como “iéééééééééé...” A criançada se divertia, o imitava, mas tinha um medo danado de ser abraçado e assediado pelo Roberto, que costumava ir em direção de alunos e alunas dentro do ônibus na volta do colégio.

Certa vez, já adolescentezinho, protagonizei uma cena cômica com Roberto. Gostava de ir à missa das 9h da manhã de domingo porque estava vazia (eu era meio misantropo, sei lá, e ao mesmo tempo católico quase seminarista). Bem, já posicionado para começar a missa, a igreja central com pouco público e com aqueles bancos de madeira longuíssimos que só terminam na parede, me chega o Roberto Doido e caminha em minha direção. Eu ali, sozinho, o padre pronto para os ritos iniciais, as pessoas atentas... foram obviamente perturbadas, porque eu queria vazar dali, mas não havia saída pela lateral, então tive que ir pulando e tropeçando e caindo nos bancos e o Robertão atrás e o povo rindo da cena e ao mesmo tempo irritado, até que o padre lhe chamou a atenção e o malucão quietou. Por precaução me sentei na ponta do último banco perto da porta. “Qualquer coisa eu viro um tiro”. Deu nada não.
Vejam só. O povo da cidade dizia que Robertão Doido tinha ficado louco de tanto estudar. Falavam que ele sabia tudo de economia, taxas de juros, câmbio, bolsa de valores, etc. É claro que na época eu acreditava com toda a fé. Até que um dia me dei conta de que essa história era conversa fiada. Afinal como poderiam atestar que Robertão Doido era um gênio em economia e entendia sobre bolsa de valores se não havia ninguém na disgrama dessa cidade que sabia dessas coisas.

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