O peso mais pesado - eterno retorno em Nietzsche
O peso mais pesado
E se um dia ou uma noite, um demônio se introduzisse na tua suprema
solidão e te dissesse: “Esta existência, tal como a levas e a levaste até aqui,
vai-te ser necessário recomeçá-la sem cessar, sem nada de novo, ao contrário, a
menor dor, o menor prazer, o menor pensamento, o menor suspiro, tudo o que
pertence à vida voltará ainda a repetir-se, tudo o que nela há de
indizivelmente grande ou pequeno, tudo voltará a acontecer, e voltará a
verificar-se na mesma ordem, seguindo a mesma impiedosa sucessão, esta aranha
também voltará a aparecer, este lugar entre árvores, e este instante, e eu
também! A eterna ampulheta da vida será invertida sem descanso, e tu com ela,
ínfima poeira das poeiras!”... Não te lançarias por terra, rangendo os dentes e
amaldiçoando este demônio? Ou já vivestes um instante prodigioso, e então lhe
responderias: “Tu és um deus; nunca ouvi palavras tão divinas!”. Caso este
pensamento te dominasse, talvez te transformasse e te aniquilasse; perguntarias
a propósito de tudo: “Queres isto outra vez e por repetidas vezes, até o
infinito?”. E pesaria sobre tuas ações com um peso decisivo e terrível! Ou
então, como seria necessário que amasse a ti mesmo e que amasse a vida para
nunca mais desejar nada além dessa suprema confirmação!
NIETZSCHE, Friedrich. A gaia
ciência. 2ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2011, p. 179. Aforisma 341.
Imagem: Marcel Caram
Lindo demais!
ResponderExcluirUm dos mais profundos textos para o indivíduo fazer uma revolução em sua vida.
ResponderExcluirMaravilhosa reflexão.
ResponderExcluirIsso me lembrou muito o Mito de Sísifo. Posso achar que tem alguma relação?
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