Desventuras na terra do zebu
Uberaba e então você sempre odeia um pouquinho mais. São
10h40. E por aqui há um site que informa a hora que o ônibus passa. É sempre
bão qdo vc sabe que o próximo demoooora dum tanto. Cê nem imagina. Palmas! O
criador merece o Tocantins inteiro. O site diz e ele vai passar às 11h23. Hora
adequada. Das 11 às 12 não há aula no tal Centrão (o Centro de Legislação de
Trânsito) e precisa-se chegar no mínimo com 10min de antecedência porque,
sacomé, aquilo lá é burocrático pra dedéu e desorganizado pra chuchu. Você
precisa cadastrar seu dedinho (biometria) a cada aula que assiste (que dura
50min), no início e no término de cada uma. É um senta e levanta infinito. Parece
igreja. Invenção do demônio isso, isso sim. Não, não é a igreja (ou é também,
vai saber deus q sabe), o Centrão. O DETRAN deve gerenciar a sede do inferno.
Num tem cabimento. E são 45 horas/aula. Você só pode assistir a 10 por dia. Mas
quem aguenta tamanha tortura? A professora começa a aula do módulo de Meio
Ambiente dizendo que não sabe quase nada de Meio Ambiente e que vai dar só um
embromation para nós. Ainda bem que avisou. Lá pelas tantas começa a falar de
Geopolítica pois existe também integrado o conteúdo de Convívio Social e é aí
que você descobre que a África é sim um país e que falta água no solo de alguns
locais já e também que um menino de 14 anos que era muito muito muito
inteligente (pois sabia inglês, alemão, francês, italiano e compôs uma música
que o Iron Maiden gravou) se matou colocando uma mangueira no escapamento até
seu banheiro para assim inalar monóxido de carbono, cuidado, este é um gás
perigoso, inodoro e insosso. Você morre.
Ok. Não há tempo de eu almoçar no bairro. Mas 11h23 vai dar
certinho. Mas tem que ser tudo com perícia, conhecimento e precaução. Até às
11h33 eu já cheguei ao terminal. De lá mais 5min caminhando até o
restaurantezinho que fica ao lado da escola de pilotos de fuga e então eu
almoço rapi10 e consigo cadastrar na primeira aula da tarde que começa ao
meio-dia. Será um dia longo e eu preciso terminar essa parada logo porque em
breve não terei mais tempo.
Estou na esquina do ônibus, do outro lado da rua. São 11h20.
E o ônibus acaba de sair. E adivinha quem não está dentro dele? Luís XIV. E eu.
Vamos ver o próximo. No ponto tem indicativo de horário. Baita invenção. Sim,
igualzinho a primeira (QUE TÁ FUNCIONANDO QUE É UMA BLZ). Daqui 25min. 11h22 +
25min = fudeu e não vai dar para fazer o que queria. Ou perco aula ou nada de
almoço. Três minutos de sem saber o que fazer... e o que é esse ódio crescendo
dentro de mim? Vida, devolva as minhas fantasias. Calma. Já sei. Vou ao
restaurante aqui mais perto e que nunca fui, almoço durante estes minutos que
me restam até chegar o ônibus and happy end. Entro. Está bem vazio. Aqui serve
almoço agora? “Serve PF. Peça para o garçom quando estiver em sua mesa”, diz a
atendente balconista que está ao lado do infeliz do garçom. Sento à mesa.
Garçom passa por mim três vezes buscando coisas desimportantes e nada de
perguntar. Na terceira já estou dobrando a porteira (sim, o
boteco-pub-restaurante tem uma porteira, coisas da terra do zebu). Ah sim. Me
lembrei que há outro restaurante ali na frente e este já conheço porém é caro ô
negócio caro vai ser caro assim lá nos inferno. Mas tá valendo. Vou cumprir meu
plano. Não, não vou. Está fechado. De recesso. Ah essa piçiroca vive destes
estudantos jalecosos da Uniube. Se um fecha o outro parece que também, né. Já
se passaram 15min. Não vai rolar. Vou para o outro ponto.
O jeito vai ser perder a aula mesmo. Perdi. Resolvo então
atravessar mais 15 quarteirões num segundo ônibus, no eixão (que aqui chamam de
vetor), para sacar dinheiro porque, ora, porque a passagem agora está 3,80 e só
aceitam dinheiros para recarregar a bagacinha magnética e eu tenho poucos
dinheiros, sem falar que não há caixa eletrônico perto de casa. Pronto,
articulei meu tempo. Venci. Vou voltar a pé do banco ao Centrão. Agora só falta
chover. Com esse calor não seria nada mal. Bastou pensar isso para não chover.
Em Uberaba se uma coisa pode dar errado ela vai dar errado da pior maneira
possível. E chover seria uma coisa boa, embora dentro de um contexto ruim, eu a
pé para escola de drivers. Uma coisa boa e outra ruim, daí anularia. Não, o
código oculto do funcionamento desta cidade não permite. Parecido ao conteúdo
dessa narrativa já ocorreram várias comigo por aqui, é cotidiano. Sou azarado?
Talvez. Se verdade isso for, meu azar nestas bandas é potencializado. “Ah e por
que você não vaza, some, se escafede de nossa cidade?”, indaga o bairrista.
Porque o IF é sensacional. Mas veja só, ele está mais ou menos fora da cidade
(onde existe um campo de força). E eu preciso do trabalho. Perguntas
respondidas, concluo.
Chego dentro do prazo para pegar a próxima aula depois
daquela que perdi. Eita. O sistema está fora do ar. Não tem como fazer a
biometria. “Ah, vamos fazer uma lista de nomes e CPFs e mandar para o DETRAN.
Em cinco dias uteis eles aprovarão a aula (ou não). Faremos isso com todas do
dia. De cada dez pedidos destes, sete eles aprovam”. O povo se revolta. “Que
descaso!”. Vão embora. Eu fico. Já estava tudo desgraçadamente desgraçado
mesmo. A aula acontece. Na próxima, uma hora depois, o sistema volta. Ah rá!
Tentaram apagar meu brilho.
Logo eu.
Césio 137 do triângulo mineiro.
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