Trotsky, alternativa ao stalinismo? [Slavoj Zizek]
Krzysztof Boruń, Uma das visões artísticas do cosmos |
Embora o trotskismo costume servir como uma
espécie de obstáculo político-teórico que impede a análise autocrítica radical
necessária à esquerda contemporânea, a figura de Trotski continua sendo
crucial, na medida em que representa o elemento que perturba a alternativa "socialismo democrático ou totalitarismo stalinista": o que encontramos em
Trotski, em seus textos e em sua prática revolucionária nos primeiros anos da
União Soviética, é o terror revolucionário, o domínio do partido e assim por
diante, mas de um modo diferente do stalinismo. Portanto,
para permanecer fiel às realizações reais de Trotski, seria preciso refutar os
mitos populares de um Trotski democrata e caloroso que protegia a psicanálise,
misturava-se aos artistas surrealistas e teve um caso com Frida Khalo. E, mais
uma vez, a conclusão de que, "mesmo que Trotski tivesse vencido, o resultado
final seria basicamente o mesmo" (ou, mais ainda, a afirmação de que Trotski
está na origem do stalinismo, ou seja, de que, a partir do fim da década de
1920, Stalin apenas aplicou e desenvolveu medidas prefiguradas por Trotski nos
anos do "comunismo de guerra") está errada: a história é aberta, não podemos
dizer o que teria acontecido se Trotski tivesse vencido. O problema é outro: é
o fato de que a atitude de Trotski impossibilitou que sua orientação vencesse a
luta pelo poder estatal.
ZIZEK, Slavoj. Em defesa das causas perdidas.
São Paulo: Boitempo, 2001, p. 197.
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