Educação social em Esparta, a paidéia [Werner Jaeger]



"Na vida dos Espartanos – nas suas refeições coletivas e na sua organização guerreira, instalada em tendas de campanha, no predomínio da vida pública sobre a privada e na estruturação estatal dos jovens de ambos os sexos e, finalmente, na rígida separação entre a população agrícola e industrial “plebeia” e os senhores livres, devotados só aos deveres citadinos, à prática guerreira e à caça – viu-se a realização consciente de um ideal de educação análogo ao que Platão propõe na República. Na verdade, Esparta foi, em muitos aspectos, modelo para Platão e outros teóricos da educação posteriores a ele, embora neles vivesse um espírito completamente novo. O grande problema social de toda a educação posterior foi a superação do individualismo e a formação dos homens de acordo com normas obrigatórias da comunidade. O Estado espartano, com a sua autoridade rigorosa, surgiu como a solução prática deste problema. Neste detalhe, ocupou o pensamento de Platão durante a vida inteira. Também Plutarco, profundamente impregnado do pensamento de Platão, voltou constantemente a este ponto. A educação estendia-se aos adultos. Ninguém era livre nem podia viver a seu bel-prazer. Tal como num acampamento, na cidade todos tinham as suas ocupações e modo de vida regulamentados em função das necessidades do Estado e tinha consciência de não pertencerem a si próprios, mas à Pátria. Em outro lugar, escreve: Licurgo habituava os cidadãos a não terem nem desejo nem capacidade para fazerem vida privada. Pelo contrário, levava-os a se consagrarem à comunidade e agruparem-se em torno do seu senhor, libertando-os do seu eu pessoal, para pertencerem inteiramente à pátria.

Esparta era um fenômeno difícil de ser compreendido pela mentalidade cada vez mais individualista da Atenas posterior a Péricles. Devemos dar pouco crédito às interpretações filosóficas das coisas espartanas. A observação dos fatos, porém, é, vida de regra, exata. O que, aos olhos de Platão ou de Xenofonte, devia-se à obra de um gênio educador, poderoso e plenamente consciente, era na realidade o remanescente de um estágio mais simples e primitivo da evolução da vida social, caracterizado por uma forte coesão social e um débil desenvolvimento da individualidade".

JAEGER, Werner W. Educação estatal de Esparta. In: ______. Paidéia: a formação do homem grego. 3ª ed. Trad. Arthur Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 1994, p. 112-113 (grifos do autor).

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