Apoio popular irrestrito à barbárie institucionalizada [Hannah Arendt]
“Seria
um erro grave esquecer que os regimes totalitários, enquanto no poder, e os
líderes totalitários, enquanto vivos, sempre ‘comandam e baseiam-se no apoio
das massas’. A ascensão de Hitler ao poder foi legal dentro do sistema
majoritário, e ele não poderia ter mantido a liderança de tão grande população,
sobrevivido a tantas crises internas e externas, e enfrentado a tantos perigos
de lutas dentro do partido, se não tivesse contado com a confiança das massas.
Isso se aplica também a Stalin.
A
atração que o mal e o crime exercem sobre a mentalidade da ralé não é novidade.
Para a ralé, os ‘atos de violência podiam ser perversos, mas eram sinal de esperteza’. Mas o que é desconcertante no sucesso
do totalitarismo é o verdadeiro altruísmo dos seus adeptos. É compreensível que
as convicções de um nazista ou bolchevista não sejam abaladas por crimes
cometidos contra os inimigos do movimento; mas o fato espantoso é que ele não
vacila quando o monstro começa a devorar os próprios filhos, nem mesmo quando
ele próprio se torna vítima da opressão, quando é incriminado e condenado,
quando é expulso do partido e enviado para um campo de concentração ou de
trabalhos forçados”.
ARENDT, Hannah. Origens do
totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 356-357, adaptado.
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