A política sutil de Constantino para difundir o cristianismo [Paul Veyne]
Arco de Constantino ao lado do Coliseu |
"Antes de chegar
à grandíssima e dificílima reforma, a proibição dos sacrifícios aos demônios,
um golpe menos doloroso e bem imaginado foi a instituição legal por
Constantino, em 321, do repouso dominicial. Dando prova assim de esperteza de
espírito, o imperador impôs ao mundo antigo, cujo calendário era diferente, o
ritmo temporal da semana que até hoje vigora; introduziu assim, de modo
indolor, um pouco do calendário religioso cristão no ano civil, mas sem atentar
contra a liberdade religiosa de cada um.
É coisa de se
admirar. Primo, nossa semana deve tanto à astrologia popular pagã quanto ao
judeu-cristianismo – e isso permitiu a Constantino contentar os cristãos sem
contrariar os pagãos. Por simples coincidência com a semana judia, a doutrina
astrológica ensinava a pôr cada dia sob o signo de um planeta, do qual assumia
o nome; e, como havia sete planetas (entre os quais o sol, que por essa época
girava em torno da terra, acreditava-se), chegava-se a um ritmo de sete dias,
um dos quais (Sunday, Sonntag) estava sob o signo astrológico
do sol. Essa doutrina teve um tal sucesso que os pagãos, sem adotar um ritmo
hebdomadário, conheciam os nomes astrológicos dos sete dias; sabiam assim se o
dia era bom ou de mau augúrio. Segundo, antiga instituição romana era o justitium: se, em determinado ano, dá-se
algum acontecimento (declaração de guerra, morte de um membro da família
imperial, funerais públicos de um notável municipal), os poderes públicos
decretavam um justitium, isto é,
fixavam uma data em que, naquele ano, toda atividade do Estado seria
excepcionalmente suspensa. Constantino inventou um justitium perpétuo.
Cristo tinha
ressuscitado no sétimo dia da semana judaica e os cristãos se reuniam em sua
sinaxe no último dia de cada semana, para comemorar a Ressurreição com a
eucaristia; o dia do sol, dessa forma, tornou-se, para os cristãos, o dia do
Senhor (dimanche, domenica, domingo), dia da missa. À
altura do fim do século, chegará o dia em que começará o tédio dos domingos.
Para que a multidão vá ouvir o sermão, serão proibidos os espetáculos teatrais
e as corridas de carros aos domingos por meio de leis inúmeras vezes renovadas,
porque pouco respeitadas".
VEYNE, Paul. Quando
nosso mundo se tornou cristão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2010, p. 62, adaptado.
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