Relato de Mochila N°1: Tudo veio da europa

Tudo veio da europa

Cidade sem posto não existe. Caminhoneiro, moto táxi, taxista (em sua maioria homens) são todos iguais. Cantora/os, escritora/es e louca/os são os que usam dos outros trabalhos (supracitados) como trampolim para vida, transporte pequeno, viagens rápidas, caronas.

Seria assim: o imperialismo capitalista conseguiu introjetar a cultura do capitalismo norte americano e tardio europeu pela movimentação de cargas em todos os territórios conquistados pela europa, lembraremos do transporte marítimo também.
(Marechal Cândido Rondon, Paraná, fevereiro de 2016)

Intelectuais, conservadores em sua maioria, tentam viver uma vida baseada na vida dos construtores dos megaempreendimentos em cada parada próxima ao petróleo, shoppings, grandes mercados, multinacionais colonizadoras, consumo, ostentação, as vilas dos engenheiros são copiadas como modelo para todo país, carros, educação, segurança, forma de pensar, maçons, condomínio fechado, lacrado de medo.

E de onde vieram estes construtores de um novo mundo? Das melhores faculdades, europeias e norte americanas (velho mundo). De onde vieram os trabalhadores? Da terra saqueada, mão de obra barata, escrava, indígena.

Passamos enquanto Brasil por esse ápice econômico nos anos 80/90, cultura do corpo, consumo da beleza, muita música para atrofiar, muito remédio para cegar e muita droga para expandir, até explodir. O Brasil deu um jeito de esconder suas mazelas do turismo sexual e naturalístico dos gringos compradores, turistas.

Teria o Brasil, referência em ascensão econômica na américa latina e espelho cultural e futebolístico, após sua "independência" deixado de ser colônia de exploração para ser colônia de férias para gringo?

Europeus passam dias, meses, anos, reaprendendo conosco culturalmente, como poderiam ter sido em um passado pré-industrializado, antropologia coitada, só a mando. Os exóticos, exalando "Tezão" e swing conquistaram a europa e américa do norte, fizemos lembrarem de um passado já obscuro. Porém, fizeram conosco suas experiências mais macabras, como em um zoológico no Zimbábue ou nas ruas de uma cidade de fronteira, que se vê em colapso de tanta informação e pouco amadurecimento. Turismo, natural, esgotando. Os que mais utilizam dos recursos naturais esgotáveis não os preservam.

Será que a ascensão ao iluminismo racional pelos europeus nos tornou ratos de laboratório do primeiro mundo? A mão de obra do luxo europeu se concentrou por todo mundo até os Eua se portar como quem nos "descobriu" e também passou a nos colonizar e não produzir mais. Assim como nós fazemos com nossos vizinhos de um mesmo espaço, terra, aldeia, vilarejo, cidade, grande centro, colapso.

Cultura tradicional engolida pelos Royalties do petróleo na bolsa. E desse combustível fóssil, se criam consumo de tudo quanto há, o caminhoneiro passa, por lá deixa rastro, na sua pegada vai o andarilho e na sua aba a/o louca/o, escritor/a, musica/o, pintora/os, os poetas da vida sofrida deste mundo de submundo, de terceiro mundo. Para eles o consumo barato, muamba, má qualidade. Ou até boa qualidade para o nível da cidade. Não se importam com o material se a mensagem for bem passada, como tento nessa.

Destes, subempregos são aprendidos, prostituição, tráfico, facilitações, ajudas, filhos, filhas, povoados, cidades, grandes centros que nada são centralizados, são apenas rodeados de rodovias, portos, ferrovias e postos de combustíveis, sem petróleo não roda, sem estrada a agricultura da américa latina não desfila suas camionetes, seu poder aquisitivo e territorial concebido no genocídio imperialista europeu e passada por gerações extrativistas.

Creio que a cidade não se auto sustenta e nunca conseguirá se sustentar nesse mundo de consumo imediato e frenético. Auto sustentação e conservação requer voltar às origens, a tradição, sem idealismo, mas o mais simples, substancial e existencial, em harmonização. Mas o que se nota é apenas o consumo desenfreado, eua quer ser Europa, Brasil quer ser eua, um continente inteiro se espelha na nossa vida de ascensão e vontade de poder e tudo se consome, sul frio demais, norte muito seco e centro úmido, pesado.
(Ciudad del Este, Paraguai, fevereiro de 2016)

Seriam as fronteiras, barreiras, bandeiras, partes da divisão de uma vitrine? Neste mundo hiper comercializado com seus agentes dando suas vidas pelo valor monetário e seu poder aquisitivo, tratados, embargos, incentivos fazem das relações entre estes agentes parte de uma negociação entre administradores, cambio, plata, real, dólar. Investem milhões em segurança para suas pequenas lojas, extremamente armadas e a ponto de explodir, nos anos 80 ver gente armada no brasil era comum, no paraguay até hoje, candelária no Rio, Famílias comendo lixo em foz do iguaçu em 2016.

Não sei como foi na ásia, américa central, antártida, áfrica pouco sei mas suspeito que sofrem e sofreram como nós latinos sofremos, por não termos sido enquadrados no padrão filosófico, científico e social da época.

A europa em decadência extrema, nível de idosos cada vez mais alto, vida mais fria, cabreira, conservadora. Seria o suprassumo da sociedade iluminista racional o fim idoso, sem vida e decadente?


Por que você, filosofia, ao se mostrar toda liberal e para a frente acorrentou toda força de pensamento e inteligência subalterna? Não seriam vocês frutos de uma frenética consumação de seus recursos naturais, pessoais e materiais? Aqueles que tentam sustentar uma vida insustentável em troca da vida de bilhões de pessoas que vivem em situação sub-humana no submundo.

Suas tecnologias, casas, carros, ideologias já não me encantam, por mim se sucumbiam ao pó. Não temos pernas mas caminhamos, damos o nosso jeito e, aqui estamos. Porém temo pela natureza, pode ser tarde demais.

O errado ainda será cobrado, a natureza devolve aos humanos o que nós fazemos com ela. Tragédias, desastres, depressão, solidão, suicídio, o cume da vida social tradicional europeia está alto como uma pirâmide. E dela se faz modelo, hierárquico, econômico e social pelo mundo e se ocorrer o que já houve do lado de lá do oceano, um bom futuro não nos espera. Subestimaram a natureza e essa pirâmide se tornou tão delicada quanto uma seda ultrafina que sempre rasga, desfaz, desmancha.

Esse texto é para quem ousa pensar, ler, se conectar, sair do plano material e gastar cabeça. Racional, Tim, mas não dogmático, Marx. Esse é para aqueles que passaram por bandeiras de "desenvolvimento" a pouco anos, onde sentimos na pele como é ser sucumbido ao consumo, marcha para o oeste, vida acelerada, caótica.

A vida em cativeiro não nos liberta e, pela prática vemos à cada dia presídios sendo vividos de maneira mais hierárquica, violenta, sem escrúpulos, pelos próprios presos (estes chutaram a vida social imposta, conscientemente ou não).

O suprassumo da vida norte americana que tenta ser europa acabou com o Brasil, tradição zero, raízes serviram/servem apenas para justificarem o navio europeu atracar. Já cortaram nossas pernas antes mesmo de fazermos nossas estradas para as multinacionais. Viramos refém de uma lógica que movimenta o mundo freneticamente e obriga a qualquer psicologia pensar no limite psíquico humano.

Colapso mental, social, econômico, natural. Não trago boas notícias da terra civilizada, trago desilusões, angústias e revolta. A vida nas jaulas de concreto e aço criam seus ratos. Pessoas dinâmicas, astutas, para a frente, hiperativas e proativas, bem instruídas dominam a babilônia fácil e não se deixam engolir.

Não, o Brasil não é tão bonito como a teologia da ostentação prega, sumimos com nossos problemas, de baixo do tapete esconde nosso segredo, tapete sujo de graxa e escrito Welcome.

Escondemos para também termos o direito de colonizar. "Que isso?" O Brasil "evoluiu" muito economicamente em poucos anos. Muito incentivo a multinacionais, construção de estradas, rodovias, ferrovias, plano real, fuga do comunismo comedor de criança com ajuda yanke, acesso ao consumo, bolsas, faculdades, subempregos, sub escravos, boom imobiliário, crise. E o social "ó"..

Nos espelhamos de corpo e alma, mas não aprendemos com os erros alheios. Da fronteira de um país legitimamente "colônia econômica" brasileira, faço um pedido, mesmo que a língua nos atrapalhe, ou o entendimento fique opaco, não destruam a nossa América, loucos, sonhadores, músicos já haviam escrito sobre isso quando estávamos sofrendo o que estamos fazendo outros países sofrerem.

Tenho esperanças em uma vida melhor, menos material e mais sensorial. Sinto falta, a prisão turística sexual brasileira me tornou sem suspiros pra vida. Busco um pouco de ar fresco, longe dos donos da atmosfera.

Vinícius Mateus,

paraguay, 2016.

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