A coragem da verdade na democracia
“Na
democracia dizer a verdade é perigoso, não só para a própria cidade como para o
indivíduo que tenta exercê-la. No primeiro perigo, via-se a parresia [o dizer
a verdade] se revelar como a latitude dada a cada um para dizer qualquer coisa.
Agora, a parresia aparece como perigosa na medida em que requer, de parte de
quem quer fazer uso dela, uma coragem que corre o risco, numa democracia, de
não ser apreciada. De fato, entre todos os oradores que se enfrentam, nessa
barafunda de que Platão fala, nessa barafunda de todos os oradores que tentam
seduzir o povo e se apossar do leme, quais são os que serão escutados, quais
são os que serão aprovados, seguidos e amados? Os que agradam, os que dizem o
que o povo deseja, os que o lisonjeiam. E os outros, ao contrário, os que dizem
ou tentam dizer o que é verdadeiro e bom, mas não o agradam, estes não serão
ouvidos. Pior, eles suscitarão reações negativas, irritarão, encolerizarão. E o
discurso verdadeiro deles os exporá à vingança ou à punição”.
FOUCAULT, Michel.
A coragem da verdade: o governo de
si e dos outros, vol. II. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: WMF/Martins Fontes,
2011, p. 34, adaptado.
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