Paolo Rossi sobre o alarmismo da crise climática

Há dois argumentos que não surgem quase nunca ao se falar de clima: o estatuto científico das ciências meteorológicas e as intricadas conexões entre ciência e política. O modo em que essa conexão tem se articulado levou um estudioso como Guido Visconti a abandonar por um período suas pesquisas sobre o ozônio estratosférico e sobre a química da troposfera para tentar “sistematizar” a quantidade de informações sobre o clima que “na maioria dos casos, são incorretas ou exageradas, ou exageradamente alarmantes”. Visconti não aceita os tons beligerantes, o radicalismo e a presunção que caracterizam uma parte não irrelevante das teses sobre o clima. Polemiza contra a imagem de uma ciência arrogante e de maneira muito perspicaz compara a atividade do meteorologista com a do médico que, depois da anamnese e da consulta, formula uma hipótese sobre os exames a ser feitos para poder chegar a um diagnóstico e um tratamento. Acredita que nas ciências atmosféricas os dados e as provas são exíguos e que em alguns casos as teorias são inexistentes ou incompletas, certamente incapazes de ser transformadas em previsões. Considera que ainda não tenha sido encontrada uma resposta definitiva à seguinte pergunta: é verdade que o calor de 2003 foi causado pelo fato de que o homem aumentou o nível de emissões de gases nocivos nos últimos 150 anos? Ressalta a superficialidade dos que não consideram com atenção a ausência de modelos ou teorias capazes de explicar a riqueza dos dados que derivam da sondagem feita através de coleta de amostras cilíndricas profundas de geleiras e sedimentos oceânicos, e entretanto “juram sobre a validade das previsões sobre o futuro do clima da Terra”. Visconti se distancia de modo radical daquela que define “a total falta de escrúpulos de uma classe científica que parece se preocupar muito mais em manter viva uma fonte de financiamento do que com o problema relacionado à exatidão do método de pesquisa”. Não é otimista quanto ao futuro da Terra, mas tem ideias claras sobre as previsões climáticas destes nossos anos: “Alguém as comparou com a leitura das palmas das mãos por uma quiromante que usa o computador. Na realidade, não estamos muito longe disso”.

ROSSI, Paolo. Esperanças. Trad. Cristina Sarteschi. São Paulo: Unesp, 2013, p. 30-31.

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