Niilismo em True Detective
Estou
aqui assistindo a uma série americana, quando, de repente, é apresentado um
diálogo (entre dois “detetives-peritos”) que mostra o quão embaraçoso e
inconveniente pode ser um niilista para a “normalidade” da Matrix cotidiana.
- Mas se você não é cristão, então
em que você acredita?
O interlocutor reluta em
responder, mas o colega insiste. E então o outro se revela:
- Me considero realista. Mas, em
termos filosóficos, sou chamado de pessimista.
- O que isso significa?
- Que sou ruim de festas!
- Confesso que você também é ruim
fora de festas.
- Acho que a consciência humana
foi um erro trágico na evolução. Nos tornamos muito autoconscientes. A natureza
criou um aspecto seu separado de si. Não deveríamos existir pela lei natural.
- Isso parece ruim pra caralho!
- Somos coisas que operam sob a ilusão
de ter um eu-próprio, esse acúmulo de experiência sensorial. E fomos
programados para pensar que somos alguém, quando, na verdade, ninguém é coisa
alguma.
- Eu não espalharia essa bobagem.
Ninguém aqui pensa assim. Eu não penso assim.
- A coisa mais honrável para nossa
espécie é negar nossa programação. Parar de se reproduzir. Caminhar, de mãos
dadas, até a extinção, até a última meia-noite, irmãos e irmãs, deixando tudo
para trás.
[A essa altura, tremendamente
constrangido, o cristão faz a pergunta inevitável]
- Então qual é o sentido de
acordar toda manhã?
- Digo para mim que é para
testemunhar isso [o fim]. Mas a verdadeira resposta é minha programação. [Já
que] eu não tenho estrutura para cometer suicídio.
- Que sorte querer te conhecer
hoje. Por três meses você não fala nada... e agora estou implorando para calar
a boca.
Como
não lembrar Emil Cioran ou os personagens de Turgueniev? A propósito, a série
se chama “True Detective” e esse é o primeiro episódio. Recomendo fortemente.
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