A vez de Dona Marli, parte II
Dona Marli conseguiu um emprego de faxineira na casa de uma madame na
cidade, a Dona Selma.
Segunda feira, Marli levantou às 5h30 e se preparou para as três
conduções que tinha de pegar para chegar à casa de Dona Selma. Chegando lá,
deparou-se com um senhor apartamento, duplex, todo no porcelanato. Dona Marli
podia ver o próprio rosto refletido no piso, estava deslumbrada, mas disfarçou
bem seu deslumbre pois tinha medo da patroa achar que ela era uma "da
roça".
Dona Selma desceu para atender a nova faxineira, e foi logo mostrando a
casa:
“Marli, essa é a sala de estar, àquela é a de jantar, tem um banheiro
social logo ali, e na parte de cima são os quartos e o escritório de meu marido”
e blá blá blá...
Selma foi falando sem pausa e Marli anotando mentalmente tudo
direitinho.
“Agora vamos à cozinha!” Disse Selma animada.
Quando Marli viu a cozinha ficou ainda mais admirada, nunca tinha visto
nada parecido, nada tão moderno, já tinha trabalhado em casas de outras
madames, mas ali tinha aparelhos que ela nem sequer sabia ligar, e um fogão sem
boca que ela ficou se perguntando de onde sairia o fogo daquilo e rezando pra
patroa não pedir que ela fizesse o almoço, pois não saberia lidar com o fogão
sem boca que a Dona. Selma chamava de "Cook Top". Logo, Selma abriu o
armário para mostrar as panelas e louças para Dona Marli, que ficou deslumbrada
e também encucada com o monte de panelas pretas que Dona Selma tinha. Dona
Marli não conhecia o famoso Teflon.
“Esse conjunto de panelas ganhei de presente de casamento!” Dizia Selma.
E Dona Marli sorria sem graça e pensava: “Nem na roça que "nois
fais" a comida na lenha as "panela" e tão preta assim, cruzes!”
Dona Selma disse a Marli que ficasse a vontade e começasse por onde
quisesse que iria sair para pagar umas contas e fazer umas comprinhas e que
voltava logo mais à tarde.
Dona Marli não perdeu tempo, juntou uns trocados que tinha no bolso e
foi ao mercadinho da esquina e comprou alguns pacotes de Palha de Aço. “É hoje
que "areio" aquelas panela tudo". Pensou Marli correndo animada
pra começar o trabalho.
Marli pegou o conjunto de panelas de Selma e começou a esfregá-los com
força até tirar todo o "pretume" de cada uma delas, até que pudesse
se ver nas panelas. “Olha só, depois "nóis" pobre que é porco, as
panela de minha mãe "nois" podia até usar de espelho de tão ariadinha
que era, e essa madame deixa as panela nesse estado!” Dona Marli, terminou seu
"trabalho" com as panelas e foi logo cuidar da casa, deixar tudo brilhando
pra Dona Selma!
Quando Dona Selma chegou, ficou satisfeita com a limpeza de Dona Marli,
tudo limpinho, brilhando! Só não imaginava que a surpresa maior estava na
cozinha.
E Dna Marli, foi toda sorridente mostrar a "surpresa" à
patroa, e abriu o armário com seu conjunto de panelas brilhando, como espelhos
e Marli ali toda orgulhosa de seu trabalho!
O que ela não esperava era que Dona Selma fosse desmaiar! Sim, Selma
ficou tão desesperada que caiu de costas no chão brilhoso da cozinha.
Foi um reboliço. Dona Marli, saiu desesperada pelos corredores do prédio
gritando: “Acode! Acode! A "muié" desmaiou!!”
E foram as duas para o hospital. O marido de Selma chegou sem entender
nada daquela bagunça e Dna Marli explicou ao marido de Selma o ocorrido:
"Óia, senhor, eu acho que ela ficou tão feliz com a limpeza que desmaiou e
tá meio tonta até agora. Só não consigo entender uma coisa, escuta só o que ela
tá dizendo”.
E no meio de frases emboladas a única coisa que conseguia se ouvir
saindo da boca de Dona Selma era: "Era Teflon, Marli, Teflon!"
Autoria de: Sarah Jones da Mata. Postado em 13 de nov. 2013
Leia o primeiro conto sobre essa personagem da vida real: aqui.
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