O historiador e o avião

Depois de compararem o trabalho do historiador com o do psicanalista, do poeta, do juiz, do detetive, do costureiro, do padeiro, do ogro da lenda... agora chegou minha vez (de escrever alucinações desta natureza). Para mim o historiador é que nem o avião. Operando em linhas, ele viaja e faz conexões. Algumas (bem) improváveis e até arriscadas. Há aviões de pequeno porte (micro-história). Ou que só voam em lugares próximos (história local). Há aviões que não levam ninguém a bordo (história estrutural ou "sem sujeito"). E os que voam baixo e só servem para jogar inseticida nas plantações (historiadores articulistas e polemistas). Há os aviões de guerra que podem abrir novos campos ou serem abatidos facilmente por fogo inimigo ou até "amigo" (teóricos da história).

Há modelos antigos que, em geral, só aceitavam gente da primeira classe: figuras importantes (história "positivista"). Desde que reformaram modelos parecidos com estes e fizeram ver que era novos, não se fala em outra coisa e olha-se com desdém para esses anciões (Annales). Os "reformados" passaram a concorrer com um modelo antigo que frequentemente troca muitas peças para levar cada vez mais gente da segunda classe e percorrer maiores distâncias: um verdadeiro jumbo (história social e "marxista"). Atualmente há modelos mais-do-que-modernos por aí, que dão mil piruetas no céu (história pós-moderna e cultural). Alguns destes voam longe, impressionam e, inclusive, fazem outros modelos parecerem de papel. Mas a maioria só gira no ar, solta fumaça, faz estripulias e pousa no mesmo lugar.

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